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PEDAGOGIA · TEATRO

E SOCIODRAMA

Ao lançar olhares sobre os vários ramos que fazem parte da ação pedagógica, constatamos que há um grande caminho a percorrer – já é lugar comum a afirmação de que vivemos uma época em que mudanças significativas devem ocorrer na educação. Mudanças com perspectivas para além da transmissão de conteúdos pré- programados e progressivos.
O entrelaçamento entre pedagogia, teatro e sociodrama é um caminho potente de pesquisa e de transformação, que vai ao encontro de novos horizontes no trabalho educacional. Busca na ação de educar, perspectivas em benefício da integralidade do ser – contexto que envolve aspectos físicos, emocionais, intelectuais, sociais / culturais, como também, holísticos e energéticos.
Relacionar pedagogia, teatro e sociodrama não é uma tarefa difícil, pois a pedagogia, como disciplina que concentra o estudo da teoria e da prática no campo da educação, ocupa uma área muito vasta da reflexão e da ação humana, assim como a arte teatral e as abordagens teóricas e práticas do sociodrama (metodologia desenvolvida por Jacob Levi Moreno com uma perspectiva de resgatar a vida espontânea e cocriativa da humanidade).
A educação organiza-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo da vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser. Na sociedade atual ainda é visível os esforços construídos para proporcionar ao indivíduo a capacidade de se familiarizar com os aspectos do aprender a conhecer, mas ainda há um longo caminho para trilharmos no que tange os aspectos do aprender a fazer, do aprender a conviver e, principalmente, do aprender a ser.
Dentro dessa perspectiva, a tríade pedagogia, teatro e sociodrama tem muito a acrescentar; pois irá trabalhar com o aprender na ação (conhecimento adquirido no processo de realizar), na relação com o outro, na disponibilidade de compartilhar o saber obtido no processo de aprendizagem, na concepção de que cada homem é um ser criativo, espontâneo, um cocriador de sua própria história .
A necessidade de olharmos a ação educativa com olhos além de uma postura tradicional é apresentada por ROMAÑA (1996) ao afirmar que, em uma atitude didática tradicional, mobilizamos nos jovens uma porcentagem mínima de interesse, de compromisso, de contribuição. Ela ressalta, ainda, que o conhecimento livresco pode dar-se em solidão, mas que a vivência afetiva necessariamente envolve o outro, o grupo e o que cada um já sabe, ou acha saber, sobre um determinado tema. Com essas ponderações, ROMAÑA expressa o desejo por uma pedagogia com alicerces fundados na relação.
Ao trilharmos caminhos pedagógicos trabalhando com teatro e sociodrama, um tema que geralmente é tratado de maneira teórica pode ser elaborado em uma situação concreta, o que eleva o interesse do grupo e abre novas possibilidades de exploração. A experiência de um pode ser mobilizadora de todo o grupo e de toda comunidade, pois motiva outros integrantes para a ação. Na interação com os demais participantes as ideias pré-concebidas e estereotipadas podem ser questionadas e novas leituras – mais criativas e saudáveis – podem ocorrer.
Para o criador do sociodrama, o homem é um ser em relação. Todo o crescimento pessoal depende das interações que vivencia com o outro (indivíduo, conhecimento, cultura, universo) desde sua mais tenra idade. Nesse cenário de nome vida, Moreno considera que todos os eventos são sagrados e o homem é concebido como um microcosmo do universo com o poder de atualizar, a partir de suas ações, o ato divino da criação. Todos os homens possuem, latente em seu ser, a fonte criativa.
Na medida em que o homem é inserido culturalmente na sociedade, em uma visão moreniana, a centelha divina é gradativamente esquecida. Vítima de sua própria criação sociocultural, o homem tende a se identificar apenas com o seu “eu cultural” esquecendo-se de seu “ser criativo”.
A sociedade, com suas conservas culturais, cumpre o papel fundamental de armazenar e transmitir “a herança sociocultural da humanidade, mas ao mesmo tempo mantém, em sua estrutura, o risco de repetição, aprisionamento, estagnação e, consequentemente, de ameaça à vida” (FLEURY, et all 2005:32).
É contra o engessamento que Moreno e diferentes pesquisadores da arte dramática como Grotowski e Peter Brook trabalharam ao longo de suas vidas. Esses pesquisadores incessantes, não queriam perder a capacidade de encantamento da vida. Para tanto, fizeram da ideia fixa – de que o homem é um ser em eterna inovação – a seta que direcionou suas atuações no mundo.
O trabalho de Grotowski voltado para a pesquisa da profundidade do mundo interior do ator, até o ponto em que o ator deixa de ser ator para tornar-se a essência do homem (de forma que cada célula do corpo fosse capaz de revelar seus segredos) é um caminho claro de uma concepção holística do homem. Grotowski chega ao ponto de abrir mão da presença do teatro convencional, do ator e da plateia: apenas um homem solitário representando sozinho seu drama essencial.
Esta metodologia de pesquisa teatral não é menos impactante do que o trabalho de Peter Brook que, em seu livro Ponto de Mudança, afirma que caminha no sentido oposto a Grotowski, ou seja, propondo a superação da solidão em busca de uma percepção que é mais intensa por ser coletiva. Peter Brook trabalha com a força da presença de muitos atores e espectadores sendo capaz de produzir um círculo de rara intensidade no qual podem quebrar-se barreiras e o invisível pode tornar-se real. Desta forma, a verdade pública e a verdade individual fundem-se de modo inseparável na mesma experiência essencial.
Mesmo trilhando caminhos diferentes podemos afirmar que esses diferentes pesquisadores da arte e da educação propõem em suas abordagens um convite. Um convite para que cada homem, participante da sociedade, não abandone a capacidade de conectar-se com essa fonte de rejuvenescimento para estabelecer novas formas de se relacionar com a vida, com o outro e consigo mesmo.
Os projetos realizados a partir da tríade – pedagogia, teatro, sociodrama – é o reforço desse convite. Um chamado para o rejuvenescimento, para todas as instituições, grupos sociais e diferentes instâncias da sociedade.
As instituições de ensino, ocupadas em demasia com o trabalho sobre os diversos conteúdos que o homem acumulou ao longo de sua história, correm o risco de se tornarem prisioneiras de seu ofício , com isso, desenvolver “olhos nevoados” incapazes de enxergar o ser humano em construção que se encontra à sua frente, no momento presente.
É na busca por fluxos que impeçam esse olhar nevoado que a tríade – pedagogia, teatro e sociodrama – se direciona.

A centelha divina, fonte de espontaneidade-criatividade, presente em
cada um, liga a todos. A co-criação e a transformação constantes são
essenciais para a manutenção da vida recolhida em cenas-situações a
partir do momento, do aqui e agora. (FLEURY, et all 2005:31)

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